Quando criança, costumava fazer um desenho de quatro casas em um terreno e dizia ser, aquele, um projeto futuro: uma casa para mamãe e as outras para cada filho. Em 2020, em meio à pandemia, mamãe se mudou para o mesmo prédio em que resido. Confesso que, sem aquele romantismo de criança, relances de “será que vai dar certo?” surgiram, mas mamãe, com todo seu sentimentalismo, por vezes trazia os desenhos à tona: “Só faltam Naty e Kiko pra realizar seu sonho de criança!”.
O fato é que nos últimos dois anos fui abençoado com a presença diária de mamãe. Conviver com ela ainda mais intensamente nos trouxe um bálsamo de descanso e alegria, além, claro, de algumas preocupações rsrsrs. Tê-la conosco especialmente após o duro diagnóstico nos deu a certeza do cuidado de Deus. Foi um milagre realizado antes mesmo da doença. Quem vive debaixo da confiança do Eterno, vê milagres na rotina e passa a viver rotina de milagres.
Se ela abrisse uma cerveja gelada, ligava para dividir. Se fazíamos o peixe que ela gostava, nós ligávamos para ela. Se ela precisava de um favor, pedia sem ressalvas. E se queria companhia, fazia um café e me interfonava para acompanhá-la. Além das boas recordações, Deus me deu a graça de servir à minha mãe e de ser servido por ela de forma ainda mais intensa. Em muitos momentos ela foi nosso braço direito quando precisávamos trabalhar mais ou quando fazíamos longões de pedal aos sábados. Ela se entregou especialmente às nossas filhas de um modo diferente nesses últimos dois anos. E foi especialmente este fato (milagre!) que me fez refletir quando me deparei com esta foto: Ana, ao colo de mamãe, com um olhar que só me trás saudades. Quantas memórias minhas filhas criaram nos últimos dois anos! Milagre!
Não foram poucas as vezes em que me deparei com mamãe fazendo brigadeiro para Malu ou brincando com Ana ao chão. Fui agraciado com a DECISÃO de minha mãe em nos servir. Fui agraciado com o MILAGRE de Deus em trazê-la para junto de mim realizando um sonho de criança que eu sequer alimentava mais. Fui agraciado com uma nova perspectiva a respeito da promessa do quarto mandamento: Deus me deu vida longa para poder cuidar de minha mãe. É graça. É milagre!